No meu sonho eu acordava do seu lado num domingo de manhã e sabia naquele instante que não tínhamos hora para nos desenrolarmos do cobertor. Depois, tomávamos café na padaria, eu lia o jornal e você aquela sua revista de moda. No meu sonho eu ouvia você falar vagarosamente sobre o trabalho e dizia detalhadamente de pessoas que eu não conhecia, e de certo nem iria conhecer, como se fossem meus velhos camaradas. Você se atentava ao meu olhar entre um e outro gole de café , sem nada para dizer, e apenas sorria antes de retornar sua concentração para as colunas de tendências.
No meu sonho a sua mão se perdia em cafuné pelos meus caracóis, dentro do carro, no caminho para a nossa casa. Eu deitava na rede e via você cuidar das plantas, escolher os vinis que nos embalariam e dobrava, coberta do seu jeito perfeccionista e metódico, as roupas amarrotadas em cima da cama. Sem menos nem mais, você desistia da arrumação, me jogava sobre toda a bagunça, me beijava e me abraçava como nunca tinha feito antes com outra pessoa. Ah, e perguntava se eu queria ver um DVD quando anoitecesse.
No meu sonho eu tomava cerveja com você no meio da noite e debruçava na janela para ver a lua e escutar você me contando as suas histórias de outros tempos. Você falava do futuro e eu sonhava com a minha imagem nele, mesmo sabendo de antemão que eu provavelmente não estaria lá. No meu sonho você relevava a improbabilidade da nossa jornada e falava do sobrado que teríamos longe do centro. Você o descrevia detalhadamente, com as flores do jardim que construíriamos, e dizia os nomes dos gatos e cachorros que adotaríamos. Fazia tudo isso enquanto passava suas unhas nas minhas costas e me beijava com delicadeza o rosto.
No meu sonho você não perdia de vista a música da sua vida, e me jurava ter entendido que a felicidade não seria um simples destino, mas certamente a viagem. Assim sendo, seríamos felizes pelos tantos domingos na cama e pelos sonhos que compartilhávamos enquanto nos perdíamos com a lua. Você acreditava não me dever nada, porque simplesmente os amores mais puros não entendem ofensas, sequer mágoas, dívidas e, impreterivelmente, arrependimento. Pois bem, que não se arrependeria. De nós.
De tudo que fomos e vivemos. No meu sonho você me sustentava na memória, muito mais do que no porta-retrato. Você terminava tudo isso com a impressão de ter me saboreado por inteiro, porém como quem pede licença da mesa antes do sorvete de morango, pois eu sei que é o seu preferido: com a sensação que poderia ter se aproveitado um bocado a mais. No meu sonho, até o último capítulo da sua vida, você espalhava graciosamente a nossa história, para alguns ouvintes, como se ela fosse de fato as mais incríveis linhas escritas de amor da sua existência. E que uma parte de você acreditava veemente que essa sim tinha sido a mais bela fábula de amor da sua vida. No meu sonho você nunca deixava de pensar em mim quando ia ao bar de azulejos verdes, escutava Oswaldo Montenegro ou lia Eduardo Galeano. Por fim, no meu sonho, eu desejava que você nunca deixasse de sorrir à toa. Até mesmo quando eu não estivesse mais por perto.
quinta-feira, 15 de outubro de 2009
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