quinta-feira, 15 de outubro de 2009

O que é sonhar...

No meu sonho eu acordava do seu lado num domingo de manhã e sabia naquele instante que não tínhamos hora para nos desenrolarmos do cobertor. Depois, tomávamos café na padaria, eu lia o jornal e você aquela sua revista de moda. No meu sonho eu ouvia você falar vagarosamente sobre o trabalho e dizia detalhadamente de pessoas que eu não conhecia, e de certo nem iria conhecer, como se fossem meus velhos camaradas. Você se atentava ao meu olhar entre um e outro gole de café , sem nada para dizer, e apenas sorria antes de retornar sua concentração para as colunas de tendências.
No meu sonho a sua mão se perdia em cafuné pelos meus caracóis, dentro do carro, no caminho para a nossa casa. Eu deitava na rede e via você cuidar das plantas, escolher os vinis que nos embalariam e dobrava, coberta do seu jeito perfeccionista e metódico, as roupas amarrotadas em cima da cama. Sem menos nem mais, você desistia da arrumação, me jogava sobre toda a bagunça, me beijava e me abraçava como nunca tinha feito antes com outra pessoa. Ah, e perguntava se eu queria ver um DVD quando anoitecesse.
No meu sonho eu tomava cerveja com você no meio da noite e debruçava na janela para ver a lua e escutar você me contando as suas histórias de outros tempos. Você falava do futuro e eu sonhava com a minha imagem nele, mesmo sabendo de antemão que eu provavelmente não estaria lá. No meu sonho você relevava a improbabilidade da nossa jornada e falava do sobrado que teríamos longe do centro. Você o descrevia detalhadamente, com as flores do jardim que construíriamos, e dizia os nomes dos gatos e cachorros que adotaríamos. Fazia tudo isso enquanto passava suas unhas nas minhas costas e me beijava com delicadeza o rosto.
No meu sonho você não perdia de vista a música da sua vida, e me jurava ter entendido que a felicidade não seria um simples destino, mas certamente a viagem. Assim sendo, seríamos felizes pelos tantos domingos na cama e pelos sonhos que compartilhávamos enquanto nos perdíamos com a lua. Você acreditava não me dever nada, porque simplesmente os amores mais puros não entendem ofensas, sequer mágoas, dívidas e, impreterivelmente, arrependimento. Pois bem, que não se arrependeria. De nós.
De tudo que fomos e vivemos. No meu sonho você me sustentava na memória, muito mais do que no porta-retrato. Você terminava tudo isso com a impressão de ter me saboreado por inteiro, porém como quem pede licença da mesa antes do sorvete de morango, pois eu sei que é o seu preferido: com a sensação que poderia ter se aproveitado um bocado a mais. No meu sonho, até o último capítulo da sua vida, você espalhava graciosamente a nossa história, para alguns ouvintes, como se ela fosse de fato as mais incríveis linhas escritas de amor da sua existência. E que uma parte de você acreditava veemente que essa sim tinha sido a mais bela fábula de amor da sua vida. No meu sonho você nunca deixava de pensar em mim quando ia ao bar de azulejos verdes, escutava Oswaldo Montenegro ou lia Eduardo Galeano. Por fim, no meu sonho, eu desejava que você nunca deixasse de sorrir à toa. Até mesmo quando eu não estivesse mais por perto.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Fome

"Dão-nos nomes,
dão-nos números,
dão-lhes inúmeros,
mas nós não queremos o que já temos,
pois temos fomes
e elas têm nomes,
têm sede,
têm pressa,
têm crenças,
têm saudades,
têm vontade de cair
numa imensa rede
e dormir
e de ficar
e de dizer adeus..."

E elas vão rudes
numa saudável doença,
em inúmeras verdades,
num não sei quê que alucina,
apostando no azar,
vendo para crer,
crendo para ver,
e elas vão nessa
solidão sem nome,
buscando abraços,
baladas sem passos,
religiões sem Deus,
relações sem par,
fast sem food,
amor sem rosto,
governar deposto,
estar sem se dar.

São tantos nomes que já esquecemos,
pois não conhecemos dentro delas,
isso, elas...
medo elas têm sem querer
e muito mais fome
e muitos mais nomes
e neles o desgosto gostoso,
a distração sem um compromisso sequer,
o controle sem canal,
o imediatismo posto frente ao terrível vazio,
ao pranto da busca pelo alívio sem solução,
uma satisfação com fome,
nem sim nem não,
um casamento com separação total,
um cobertor com tanto frio,
uma religião com chantagem,
uma imagem com nome,
um nome com imagem,
sempre uma alternativa pra uma coisa qualquer.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Você lá

Para mim o que é saudade?
Suas palavras ecoando,
Dando voltas na minha cabeça...
Fome,
Fome enorme do seu amor,
Da sua presença,
Do ímã do seu olhar.
Saudade imensa,
Silêncio.
Seu nome.
É simplesmente quando
Há vontade de estar
Ouvindo sua voz ou não,
Estando somente
No tempo da emoção: Presente.
É você lá
E não aqui,
É saber e sentir,
Suspirar então
Com felicidade
E tanta dor
Por entender que o melhor
Que era já não é
E voltará a ser.
É me maltratar,
Mendigando seu beijo
Na memória existente.
É o simples desejo
De ser feliz à beça,
É ter pressa
Para me estacionar
Na vaga do seu coração,
No espaço imenso
Do seu abraço apertado...
É grudar nossas mãos,
Sorrindo ao seu lado
Sem estar,
É querer.
Saudade é saudade,
É raciocinar até...
É você lá,
É você.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

salvo engano

Eu sei que não amo. Que não daria certo e brigaríamos até pelo sabonete.
Saiba que não fui eu que sumi com ele da última vez.
Mas até aí, como diz todo aquele que guarda o orgulho do fim, digo que são mesmo águas passadas
Como estou?
Perco meu tempo vendo cor nas moças tão sem graça. Sem sua graça.
Mas te digo que faço mais sucesso que Alain Delon.
São tantas travessas, cruzamentos e desencontros. Um buraco sem fim.
Te falo com gosto que vivo experimentando o mundo.
Sua tatuagem está salva em meus documentos.
E copio e colo ela todos os dias nos meus pensamentos.
Confesso pra você que eu gostava mais das suas costas lisas.
Foi pior assim. Eu ando tão perdido desde então.
Na minha confissão apalavrada, solto em alta voz que a felicidade me abraçou.
Você me olhar incrédula não me traz nem a comoção das suas revistas de romance de segunda linha.
Eu tenho motivos mil para continuar nessa vida só.
Eram seus olhos dissimulados, sua dança de cigana e sua voz oblíqua.
O sorriso de Holly, a sedução de Lorelei , a condição de Séverine.
Guardo a sensação eterna de tudo isso estar sempre do outro lado da rua.
Pois é. O acaso me traiu. Fingiu. Me engoliu.
Desde então, necessito de mentiras para acordar todos os dias.
Para te dizer que esqueci.
Mesmo sendo meu único amor.

quarta-feira, 29 de abril de 2009

Espinha

Espinha,
Inspiração,
Frio.
Gota solta,
Minha
Emoção,
Um rio.
Gota não há,
Só comparação.
Eu sozinha,
Envolta
Em revolta não,
Em suspirar
Aumentando então.
Sem o ser vazio,
Só preenchimento,
Deliciosos tormentos,
Entorpecentes momentos
Crescentes no meu coração.
Pendente palpitar,
Batendo no chão
Gota e mais gota,
Diminui e aumenta,
Descobre e inventa,
Marota
Menina,
Eu lenta,
Inocente ele alucina
De repente tenta
E veloz se inclina,
Incontrolável pulsar,
Latente rota
À contemplação.
Mira meu olhar,
Adivinha,
Sina ou não
E me ensina,
Livremente há,
Espontaneamente há.
Eu a mim mirando
Supondo em vão
E não...
E entendo
De quando em quando
E o descobrindo lá
Bem aqui me sento
E espero sem esperar,
Beliscando o momento,
Com ele sonhando,
Em leve ilusão...
Amor na paixão,
Clichê minguando,
Verdades vendo,
Sem remendos...
Espinha,
Frio,
Inspiração.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

sorte ou azar

Ontem eu sonhei contigo, amor.
Tal qual Chico.
Mas tal sonho foi dionisíaco.
Em meio às suas costas, eu procurava as respostas.
Meu corpo se enchia do céu.
Suas pernas num labirinto.
Achava seu fim.
Abrasada a noite.
Passei minha ponte, seus toques me faziam um poeta.
Sua graça, tirava meu sério.
E tua voz dizia coisas.
Coisa que minha valente vida se desarmou.
Fatal saber que era um bem-me-quer. Entre dous.
Normal era saber que eu podia ser feliz.
Chamava até aquele lugar de nossa cama.
Caí da cama, sorri para o espelho.
Segui meus passos.
Hoje eu sonhei contigo, dor.
Minhas momices sem par estavam a mil.
Incontáveis cigarros. Isqueiro amarelo.
Doses e doses.
Desora para estar aqui.
Foi a sádica conversa das seis da tarde.
Incrédulo.
Seus olhos tinham outro par.
Sua conversa, diverso sotaque.
Teu coração, outro lugar.
Refuguei. Não lutei.
Minha covarde vida se manifestou.
Valia a discórdia? Uma crise de nervos?
É só pensar que não deu.
Ter peito de pedra pra seguir adiante.
Caí do cavalo, chorei para o cinzeiro.
E não pude acordar.

segunda-feira, 30 de março de 2009

ilhado

E pensar que estávamos no mesmo lugar.
Víamos a mesma coisa.
E até aproveitamos juntos.
Dividimos aquele momento.
Mesmo distantes.
Me deixa melhor saber que era perto, bem perto.
Fico calado, pensando.
Tanta demora em perceber.
Que essa será a ordem da vida.
Sempre ao redor.
Dois desconhecidos na mesma rua.
Ou num show.
É assim que deve ser.
Distantes.
Separados pelos carros que passam.
Por uma rua.
Que se fosse a China, mesma coisa.
Gosto da sensação.
Falo com meus sentimentos.
Pode ser que somos amantes.
Vivendo em mundos distantes.
Fizemos nossas escolhas.
Nossa partilha.
Cada qual no seu recolher.
Para cada passo fazer sentido num futuro.
Naquela hora, voltamos ao marco zero.
Por uma música.
Ninguém mesmo há de entender.
Nem ao menos nós.
Não se explica.
Não se vive.
Nem acontece.
Apenas não deixa de existir.

segunda-feira, 2 de março de 2009

falso amor

Nos pregam sobre o amor.
Dizem que a garota mais bonita da escola se apaixonará por nós se amarmos ela de verdade.
No fundo, quer dizer, no último dia de aula ela vai largar o namorado bonitão e ficar com você que sempre esteve do lado dela.
Na adolescência, se escrevermos bilhetes anônimos para a garota que amamos, certamente num dia, como se fosse mágica, ela, cheia de amor para dar, descobrirá que os bilhetes eram seus e aquele menino que sempre quis atrapalhar tudo será desmascarado.
Talvez encontre o amor da sua vida naquele bar, olhando para você e dando risada para as amigas. Terão uma noite intensa de sexo, ela sumirá, você irá atrás, ela não dará bola, você viajará e quando voltar, alguns anos depois, encontrará ela no mesmo bar, sozinha, dizendo que estava pensando em você naquele exato momento. Pode mudar a versão para o cinema, praia, etc...
No show da sua banda favorita, de repente, o vocalista diz que tem um recado muito importante para passar. Começa a tocar a sua música favorita e, no meio dela, uma garota te cutuca pelas costas. Você vira, ela te beija e aquela paixão de tanto sofrer nunca mais saberá o que é tristeza.
Num dia, você resolverá casar com uma mulher bacana, bonita, inteligente, interessante, mas que falta aquele "q" de paixão que tanto nos fazem acreditar que existe.
No altar, na marca do pênalti, seu eterno amor entrará correndo na igreja, tomará o microfone da mão do padre, causará um carnaval imenso e sairá da cerimônia carregada no colo pelo noivo, que no caso, é você.
Falando sério, quem acredita mesmo nessas coisas?
Vai, pensa aí na explicação de tanta infelicidade amorosa!
Quando começar a desacreditar, ali estarão Glória Pires na TV e o Robertão no rádio para te convencer do contrário.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

e a vida se fez

Os olhos agora me puxam para o lado.
Lado dela, de lá o lado.
Do lado de lá.
Os olhos que sempre me empurraram.
Ela sempre reclamava de tudo.
Eu era sempre o esquisito.
Tanta frescura eu via em seus modos.
Meus filmes eram chatos e meus bares tão sujos.
Seus amigos me enjoavam.
Seu batom era vermelho demais.
Talvez eu ainda a visse como uma criança.
A menina que cresceu comigo.
Como o tempo pode tantas coisas?
Uma geniosidade de matar pelo seu lado.
Tantos planos e sonhos diferentes do seu pro canto de cá.
Um trabalho parece que feito por pinça de tão detalhado.
E aqui me encontro sem entender o porquê de tanta mudança.
Até seu quarto me tirava do sério.
Arteira vida.
Que peça pregada para participarmos.

Agora já não vejo a solidão.
E tudo que era parecido comigo...
É em vão.
Logo em nós foi acontecer.
Descobrimos quase tudo juntos desde então.
Nossos moldes improváveis.
Na precisão de um encaixe.
É dessas coisas que dizem dos livros e filmes.
E nunca acreditei.
Desperdiçamos tanto, tanto por aí.
A juventude consumida serviu pra cair aqui.
Eu te via todos os dias.
Rotineira chegava.
Ia embora.
E tempos atrás, chamaria de bobagem.
Risos sem calafrios.

Hoje, calafrios que me fazem rir.
Não sei nem se foi no tempo ou contratempo.
Só sei que quero um lar, uma janela e um violão.
Uma cama para dormir com você todos os dias.
Passar horas dizendo do que foi.
E comemorando não ter sido de outro jeito.
Pra começar tudo de novo amanhã.
Por incrível que pareça, do seu lado se escreve felicidade.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

No improvável, a graciosiadade.
Pra me perder no óbvio.
A vida é mesmo engraçada.
Percebo simples assim.
Que a minha é cada vez mais de sonhar.
Dela esperarei de tudo.De tudo um pouco.
Tenho fumado meus cigarros pela metade quando penso em você.
Já te disse que seu rosto me parecia familiar?
Talvez seja nos rostos que vi na espera pelas suas noites livres.
Não pequei por observação.
Vá lá, por compreensão.
Hoje sinto riso e dor.
Ressoa sem cessar nos meus ouvidos.
A questão do porquê de você vir e ir.
Criatura que pisa na areia.
Sabendo que vem o mar para apagar.
E eu, aqui areia?
Onde mudei vírgula na sua existência?
Aqui foi vendaval.
Perdi o rumo dos pés.
O caminho tão comum agora é um labirinto de intenções.
E nelas, nada de certezas.
Reguei uma coleção de porres.
Calei cada instante de felicidade por te trazer á memória.
Era evidente. Iminente.
Se puder, finja que foi algo.
Das poucas coisas que ainda não sinto, rancor.
Como num grande jogo, as fichas estão se esgotando.
Em abismo adiante, fica aqui promessa de hesitar.
Infeliz de haver um amanhã.
Onde tudo pode mudar.
Feliz de pensar que foi ontem.
Mesmo que haja faca em meu nó.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

onde andará?

Deixei aqui.
Não encontrei.
Juro que acho que cuidei.
Encostar um amor de canto é perigoso.
Afinal, cada um tem a sua hora e a sua vez.
Vez de ir e de ficar.
Deixar e ser deixado.
Pensei que encontraria.
Como deixar uma moeda no bolso e a procurar noutro dia.
Talvez a encontre.
Talvez não.
Resta ir atrás de outra moeda.
Amor não resta.
Cai como num bolso furado.
E quando vê, já nem sabe quando foi.
Coloquei o amor no bolso.
Em seguro e em desuso.
Agora é tarde.
Caminho sozinho pra reencontrar.
Sem a mínima idéia de onde estar.
Calado, frustrado.
Do amor perdido no mundo.
Se vou encontrar, sorte de tolo.
Conselho que fica.
A pé, devagar.
Afoito, presente e futuro.
Fitado em meus olhos.
Guardado em abraços.
Ali estará.
Bobagem até parece.
Mas pouco cuidado é coisa de ontem.
Perder é razão pra saber.

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

chave

Faz tanto tempo que não somos nem amigos.
Meus caminhos diferentes não são vistos mais nos seus.
Talvez até vivam os mesmos sentimentos.
Mas do que valem os sentimentos sem resoluções?
Meu prazer num prêmio ou numa xícara de café é nada pra você.
Em você só cabem os ouros e os louros.
Vale se gostar?
Não nos falamos.
Sem abraços.
Cadê o bom dia?
As lágrimas...
Você estranha.
E parece que tudo se foi numa única tarde.
Irritante é não esvaziar o seu espaço por aqui.
Limpa a casa, vai.
Vai embora.
Até seus lençóis já viraram panos de chão.
Amores eu tenho.
Vida que me alça num simples compasso.
Sem baques. Sem sustos.
Você e ele são bonitos juntos.
Um belo par.
E meu coração assobia inconsequente quando falo de você.
Inconsciente.
Parece até que ser feliz deixou de ser prioridade.
Prioridade é limpar a casa.
Se me devolver a chave.
Daí me restará ser feliz.

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

poesia

Poesia se faz de tristeza.

Se faz na loucura.

E faz o poeta.

Se fazem os versos.

E faz o sentido.

E daí faz motivo.

Abraçado ao violão.

Ou num banco de praça.

Jogado com certeza.

Escrito sem pretenção.

Não precisa nem acabar.

Poesia boa tem rancor.

É bela de olhares.

Sutil de amores.

Precisa de forma e folha?

Existe só de pensar.

Parece coração sem fundo.

Que cuida da alma enquanto me perco.

Vejo a poesia como um beijo.

Cativo idéias e meus traços.

É nesse sentido que tudo se cria.

Num poesia que nada diz.

É dito apenas poesia.

terça-feira, 28 de outubro de 2008

redescobrir

A cidade ecoa saudade.
As vozes que escuto não têm o seu jeito.
Nas mãos, nada da sua delicadeza.
Ainda é cedo pra dizer.
Ainda é nova essa saudade.
Que foi durante tanto tempo vontade.
Cheio de esperança.
Espera que pulsa o seu nome.
Ontem foi lindo.
Sem vontade de ser lindo.
Simples foi.
E o desuso do amor na minha vida se desfez.
Como tirar um velho palitó do armário.
Parece que ele nunca me caiu tão bem.

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Te amo? Não lembro...

Nada mais me lembra você.
Desgarrar do travesseiro agora é só a hora de acordar.
O dia não se anuveia em céu pelado por lembrar das nossas.
Minhas loucuras das noites vagantes não são mais espera em te encontrar.
E cada sorriso que recolho, em nenhum mais vejo sua boca.
Já leio poesias e ouço canções que mostram outro sentido.
Vivenciar as coisas sem devidas emoções.
Há graças que só nisso eu percebi.
Agora dou chance a todas elas.
Aberto coração que agora é lançado no espaço.
Alinho minhas notas e faço meus versos.
E nada de rememorar de onde vinha minha inspiração.
Dor já não sei por onde vai. E de onde veio.
E o balouço das minhas diretrizes parece tão preciso.
Meus sábados estão bem, obrigado.
São vivos, não faço idéia de como eram seus gestos.
Aliás, um absurdo pensar que tardes e tardes caminhando com você era sinônimo de felicidade.
Trocando em míudos, já não tenho certeza se fui feliz.
Pois é cantante a vida agora.
E a melancolia já não beira o infinito de quando você se foi.
Sem dizer laços nem abraços.
Posso até rir como um insólito insensível insensato.
Não é desdém.
É que simplesmente você se foi um dia.
E num dia chegaria o esquecimento.
Sempre haverá um dia.
Mesmo que haja o dia de rabiscar tudo isso numa folha.
Já sabendo que nada mais me lembra você.
Prometo que lembrei só para escrever.

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

o tempo na janela

Alguns passos até o passado.
Um breve pedido para retaliações.
A sombra que insiste em me alcançar os pés.
É quase um retrato que esqueci de cobrir.
A única lembrança que não me faz confundir.
É.
Eu queria estar com você.
Fazer tudo diferente, falar de coisas sobre nós.
Dos mesmos planos já escritos por você.
Naquele papel que fiz questão de não me importar.
Tanto furor por aquela época me deu asas tortas.
Mas nada faria ser melhor.
Voar era a melodia.
Numa futura poesia.
Troquei tudo.
Sem saber do que viria.
Talvez fosse pra pousar aqui.
E hoje ter palavras pra escrever sobre o que nada foi.
Trocaria eu uma infelicidade por outra?
A obviedade da utopia é o que me faz pensar.
Insisto em querer que não é sentimento.
Penso até que é porque não foi.
Tocar aquele disco todos os dias da minha vida.
Como posso querer, ora Deus!
Aquele mesmo disco que nada vi ou senti quando ouvi.
É o fio da minha vida alimentar estranha confusão.
Pode ser que me fez uma pessoa melhor.
E te quise melhor. Muito melhor!
Todo o ar que respirei e nada cheguei.
Haverá razão no meu choro.
Se existir o riso teu.
É quase certo que resistirei calado.
E se houver sentido, no próximo futuro pensarei duas vezes.
Por que nesse que escolhi, vivi a te procurar.
Você tinha os olhos, o cabelo e o jeito da prosa.
E só Carolina não viu...

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

homem duplicado

Passarei do ponto por um dia sequer.
As minhas palavras serão impostas pelos sentimentos.
E nas verdades que refletirei, finco todas as mentiras de todos nós.
O fato é que sempre existem dois eus.
Já vistos em filmes e livros.
Um é sempre aquele que vai comigo em encontro a todos nós.
Que dá bom dia, critica as escolhas e procura se alegrar em agrupamentos.
O outro é só meu.
Que está só comigo.
Na minha singela solidão.
Nunca somos o mesmo.
Ninguém é.
É fruto para um interesse coletivo o fato de sempre nos dividirmos em dois.
Por que não dizemos tudo que pensamos?
Evitamos muitas vezes a alameda da discórdia.
O problema é visto como quem não sabe equilibrar as suas pessoas.
Tachados são de loucos.
E até onde se importar vale razão?
Por que meus pés não seguem uma única direção?
Escolhas dadas aqui podem dizer tanto em poucos corações.
Num pedaço pequeno que seja, quero minhas duas facetas encarnadas de uma vez só.
Posso flutuar então entre estradas invisíveis.
E de contador de histórias, passarei a tradutor de sonhos.

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Valei-me, Deus!

Há bem uns três anos atrás, eu era magro de dar dó.
Há dois anos atrás fui descobrir o que era um projeto de barriga.
No ano passado já exclamavam na cara dura: - Nossa, como você engordou.
E nesse ano, ao ver minha bunda numa calça tamanho 44 parecendo com a da Carla Perez, resolvi entrar na academia.
Logo eu, porque comigo?
Pensei e relutei por algumas semanas.
Pensei em soluções até.
Remédios? E o medo das coisas não funcionarem direito?
Parar com cerveja?
Bem, lá estava eu debruçado no balcão para fazer a matrícula.
Avistei lá dentro uma legião de bicicletas ergométricas, aparelhos de tortura, um monte de gente pra estampar capas de revistas e alguns outros que pareciam estar na mesma situação que eu.
Um martírio.
A música que vinha do andar de cima era um bate estaca de dar dó.
O que será que acontecia por lá?
Vem a atendente toda sorridente.
Me pergunta se não quero aula disso, daquilo, e daquilo outro.
Eu bem curto e grosso fui respondendo negativamente.
Queria uma esteira, uma bicicleta e olhe lá.
E ela ainda me cobrou os olhos da cara por isso.
Me disse que com o tempo eu começaria a malhar, conhecer gente legal, puxar ferro (?!?!) e bla bla bla... fui embora reclamando da vida.
Era o cúmulo do absurdo.
Dia seguinte. Tenho que me animar.
Fui dormir pensando assim.
Acordei pontualmente com o despertador.
Vesti meu conjunto de moleton, meu all-star mais surrado, coloquei um boné, peguei um livro, uma revista, uma coca-cola zero e lá fui eu.
Entrei. Minhas pernas estavam bambas.
Era tanta gente trabalhando os músculos frenticamente que me deu a impressão que ninguém pensava naquela lugar.
Só corriam, levantavam peso e pulavam no ritmo da música.
Peguei uma esteira rapidamente e comecei a caminhar.
Tive a impressão que todos ali estavam olhando para mim.
E realmente estavam.
Não deu míseros cinco minutos e ironicamente vem uma garota de propaganda de cerveja falar comigo.
- Você é novo aqui, certo?
Me diga algo que um gorila não sabe, pensei.
- Sou sim, primeiro dia. Parece?
E ela, como explicando para uma criança.
- Pois é. Sou instrutora aqui meu nome é (bocejei na hora do nome e não sei até agora, talvez seja Marta, Mara ou Mayara). Logo vi que você é novato, seu tênis está errado, sua roupa está errada e sua alimentação também.
Como assim? Porra, que merda!
Eu me preparei para esse momento, tentei não esquecer de nada e ela vem me dizer que eu tô todo errado? E quem disse que eu quero estar certo?
Respirei fundo e respondi com calma que logo eu pegaria o jeito.
Depois pulei para a bicicleta e daí para a rua sem mais nenhuma palavra.
Meus músculos doíam demais.
Mas senti que tava cumprindo a missão.
Dia seguinte a mesma coisa.
Quando tem noite de bar é mais complicado de levantar.
No terceiro dia, esqueci que ia para academia e apareci lá de calça jeans.
Pude até ouvir os pensamentos.
- Olha que otário! hahaha
Bem, é certo que não é o melhor lugar do mundo.
Mas pode se tornar o pior se todos na academia te olharem torto.
Ontem vi uma garota alisando o braço de um cara.
Eu jurava que tava num filme do mais estereotipado.
Mas é a bela e doce vida real.
Vem a instrutora de novo e me diz:
- Olha, você está progredindo. Logo mais estará igual a ele, apontando para uma mistura de Schwarzenegger com Mike Tyson.
Olhei para todos os cantos à procura de um revólver, mas não encontrei e preferi sorrir discretamente e me recolher na minha insignificância momentânea.
Sim, eu sou o mais odiado do recinto.
Ninguém conversa comigo, demoram na esteira só para eu não usar, entram no chuveiro antes de mim e uma vez ficaram até abanando com a mão quando cheguei comendo um x-bacon.
Ainda não sei o que acontece no andar de cima onde há música e todos gritam, mas qualquer dia matarei a curiosidade.
Logo mais estarei livre disso.
E tudo isso só serviu para eu confirmar uma coisa.
Eu nunca farei um amigo tomando gatorade.

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

entendimento

Já não me sinto culpado.
Talvez seja normal de todos nós.
Deixar alguns nós parecer casual.
Entendo como devia.
Foi preciso ver onde não acreditava.
Na vida sua e naquele outro.
Em muitas vezes, de quem está do seu lado.
A grande questão da felicidade pode estar por perto.
Vejo algo próximo de aprender a libertar paixões.
Aprisionar os sentimentos desde então será um retrocesso.
Pois ainda estarão elas ali nos mesmos lugares?
Tocando a mesma música.
Vivendo como se atuasse.
Sorrindo do mesmo jeito.
Mas minha vida agora é outra.
Ainda há o direito de guardar uma gota de talvez?
Mesmo vivendo em outra felicidade, culpa agora é coisa de valor barato.
Pensar que nunca mais, deixava a ponta da alma dolorida.
Num caso, pela graça que teve.
Para o outro é pela intensidade que se renova de época em época.
E por fim, afinal, nossa história merecia um final melhor.
Meus sentimentos abissais agora estão bem aqui na minha frente.
É como se olhar no espelho e não ter o que esconder.
Ter certeza que não há nada de errado em acreditar.
Acreditar que pode haver tempo.
Tempo para aspas e parênteses.

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

incerteza

Acordo na varanda de uma cabana.
Nas ilhas Fiji o mar é mais azul do que o céu e faz curioso contraste com o sol.
Caminho um pouco pelo Central Park e logo depois tomarei café na Champs Elise.
Apresso-me ainda pra não perder o sol da manhã e vejo as ondas no Havaí belas como nunca.
E já fugindo do sol, uma rápida passagem pra pegar a brisa nas ruínas gregas.
É hora de almoçar. Na dúvida, comida japonesa em volta do monte Fuji e me acanho num canto no topo do Kilimanjaro para aquela providencial soneca.
Acordo para umas compras em Milão.
Um pulo no Louvre pra me inspirar e outro em Veneza pra me apaixonar.
Na Escócia, paro por um gole de uísque e em São Petesburgo para uma dose de vodca.
Relaxo em passos lentos pela Muralha da China até chegar na Cordilheira dos Andes, sem me esquecer de passar por Compostela.
Fim da tarde e é hora de esquiar. Desço em ritmo acelerado pelas montanhas de Aspen e encontro o chão em Genebra.
Preciso me correr. Ver o pôr-do-sol das pirâmides do Egito é um dos meus programas favoritos.
Os violeiros mexicanos embalam o meu jantar regado de alegria.
Já vejo a lua e chuva. É hora de beber com os amigos na Abbey Road.
Quando a noite esquenta, corremos para Barcelona para não perder nada da festa.
Cansado, difícil dormir às cinco da manhã com essas luzes de Las Vegas.
Ainda tenho dúvidas se fiz a escolha certa.
Pensar que uma volta de mãos dadas com ela e um beijo antes de domir me fariam mais feliz que essa vida que levo.
Pode parecer loucura.
Vai saber.

sexta-feira, 18 de julho de 2008

depois

Hoje é tão claro.
Como seria em um milhão de anos.
Mas há tempos distantes, bobagem.
Só naquele instante seria riso sem importância.
E bem ali houve a hora dela.
A discrepância soando como um megafone em meus ouvidos.
E chora o coração. Pela anunciada frustração.
Ou porque gostei depois da hora.
Mas onde que fui encontrar que era ali naquele instante?
Que era a menina do assobio colorido.
É que foi um tanto de tempo depois.
Onde já não havia mais.
Encontrei belos aqueles momentos que passamos.
Quando presentes, mal me importavam.
Brinquedo das horas tratantes. O amor foi assim mesmo.
Era ali minha época de vida solta.
De experimentar o gosto do mundo.
Eu trilhava o verdadeiro.
E hoje, é oposto.
Deve ser daí que dizem sobre verdade relativa.
Hoje, o sorriso diz muito mais do que o momento me trouxe.
Cabe-me a dúvida.
Sobre graças da vida.
Ainda sobre aquele momento, bem aquele.
Era só para uma posterior indagação?
Ficou na foto uma séria ilusão.
Em que hoje os beijos seriam doces.
Ilusão que permanecerá mesmo descoberta.
Onde ainda duvidarei das minhas intenções.

terça-feira, 24 de junho de 2008

sete dias

É no meio-fio. Entre lá e cá.
Que de certo não sei até onde ir.
Tenho certeza que quase sei o que posso.
É que depois dela as coisas se tornaram diferentes.
Lembro ainda da primeira semana.
De conhecer o tom da voz e saber sobre o animal de estimação.
É na graça que houve.
No riso ali do seu sorriso.
Agora me encontrava.
Ali.
Todas as boas coisas que descobri pela vida.
Agora se mostram normais.
A sorte era só uma.
Tanta coisa contida por esses instantes.
A vontade de saber muito mais. De vasculhar escura caverna.
Parece que sei tão pouco e já o pouco, por eternidade, bastaria.
Por oras, entendo que deve haver muito mais do que o que ela compartilha comigo.
Até onde vão os seus limites.
Os últimos pensamentos do dia?
Aqueles que até mesmo ela se esquece.
As várias estradas das suas idéias.
E bem ali seria morada.
Difícil explicação, sei.
Se ela fosse aqui, reescrever meus erros seria coisa simples.
Perto de você, o ontem deseja o amanhã.
E o agora agoniza para não ir embora.
A saudade se torna coisa de até antes de nos conhecermos.
Tudo estava na primeira semana.
O mundo era ali.

segunda-feira, 16 de junho de 2008

fio de instante

Por segundos. Em horas. Cabe os milênios.

No tempo que era passado. Em instantes, futuro.

Mas sempre se encontra agora.

Melhor seria ontem ou amanhã.

Foge da vista, parece que não chega.

Contudo, de tão veloz que não vemos passar.

Estranha contradição.

Falamos do futurismo e dos antiquados.

É simples relação desse senhor das separações.

O tempo.

Aos seguimentos que vazariam do papel.

Eras, anos e frações de segundo.

É tudo do tempo.

Tento até em brincadeira.

Será que houve um ínfimo segundo que escapou do tempo?

Em que ele se perdeu?

É egoísta por muitos.

Escolhe os prediletos. Por presentear em surpresa hora.

Chamamos de sorte.

A precisão que nos falta é concedida ao tempo.

O tempo que nos parece sempre um tanto retardado.

E em vezes de apressado demais.

A exatidão nele é nossa constante preocupação.

Atribuem ao tempo resolver. Dizem que é de apaziguar.

Até mesmo que não falha na justiça. Tarda.

É tão belo assim?

E eu que pensava que só era dono do relógio.

Por tantas vezes, afaga com uma mão e logo ali, recolhe a alegria com a outra.

Num mestre, coube o dito da eternidade ao invés da modernidade.

É se colocar na altura do tempo.

Desafiar não se perder no meio do gigante. Perpetuar.

Cabe aqui o desejo do mestre.

Onde o tempo vai ficar. Mas também chegará.

Sem notar nem ser notado.

Vou tentar ali estar, do lado dele.

Por dúvida, vigiando esse senhor pra que seja bondoso comigo.

Desperdiçá-lo soaria como insulto.



segunda-feira, 19 de maio de 2008

reflexos

Ao que escrevo?
Pois vivo em poucos dias.
Existo em quase todos.
Ser exato, buscar as fantasias.
Me enrolo em um cobertor de dúvidas.
E jogo os lençóis das decisões para o alto.
As minhas poesias existem na humildade.
Por meus contos, as complexidades.
Vago no seu coração. Em suas lamúrias.
Nas verdades que nos separam.
Me banho em idéias.
Inspiração que vem de todas as coisas.
Em nada um descarte.
Pretensão de tirar de você tudo que posso.
No ponto de você me olhar e ali estar contidas tantas palavras.
Que na sensibilidade, me obrigo a escolher as certas e presentear uma folha.
Inclino meu peito aos céus e troco as letras de lugar.
Coloco meus olhos nas cinzas e vejo reinos inteiros de descobertas em prosas.
Quero talvez criar o meu mundo.
Envolto de azul, sem parágrafos ou vírgulas.
Aos tantos mestres que cativam. Clareiam e escurecem.
São minha noite e meu dia.
Na intensa busca pelos meus próprios sentidos.
Quero um despertar iminente.
Onde eu possa acordar e encontrar palavras.
E essas regarão sonhos.

segunda-feira, 12 de maio de 2008

a língua das mulheres

Entrelinhas.
Espaços grandiosos.
De dizeres azul falando em vermelho.
Das mulheres. Por minhas mulheres.
Antagonizam com minhas idéias. Precisão em confundir.
Se palavras por elas vão em diagonal, como procuro em firmamento?
Estarão aos anjos. Calarão as estrelas.
Mas me encontro em procura.
Por poesia, explicado.
Em vivência, um percalço.
Ventura daqueles que o sabem.
Do entender das mulheres.
As juntas mãos não me dizem.
O coração palpita sereno e resposta não espelha.
As horas em encontro são revestidas de incertezas.
O sentimento é diletante. Verdade instiste em não haver.
Vou de contracorrente, sei.
Ao pensamento que me envolve todos os dias.
Que outrora achado que compreenderia.
É assim mesmo.
Calculo em versos e acho em sentidos vagos.
As idéias compassadas.
Ao ponto de não ter.
Tendo todos os dias.
Como prosa de felicidade.
Explico-me aí.

segunda-feira, 5 de maio de 2008

Feche seus olhos

Aos cruzamentos é possível razão.
Vidas que se cortam.
Cruzes da vida que carregamos.
Ou vezes rotas de sorte em encontro.
Aos tantos esbarros de todos os dias.
As tantas promessas que não concretizam.
Aí você.
Descola-se da normalidade dos encantos que se vão.
É assim pela pungência anunciada para amanhã.
Até vejo onde parar. Me vejo num par.
Vejo mais perto, com medo.
Do jeito que faço ter gosto.
Em ponto das coincidências.
Perco-me na sonoridade. Nos seus papos. E rio do seu sarro.
Vira a mesa dos meus sentidos. É pisar nas estreitas ruas.
É bailar em escura noite.
Perco a hora desde então.
Confundo com minhas palavras e esclareço nas suas.
Numa esquina, na menos exata. A mais bonita.
E menos provável.
A esquina que desenho como sorte.
Cruzada está. Ficando vou.
Amarei?
O corte de cabelo e a banda favorita bastaria.
Mas é ponte muito além.
Que pareço seguir vendado.
Irei?
Um passo e um pensamento.
Talvez no final dela, desvendados os meus segredos.

quinta-feira, 24 de abril de 2008

segunda vez

Parecia um desastre. Não ficaríamos ali mais do que ínfimos quinze minutos.
Passado tempo já não encontrava motivo. Mas me sentia atraído a um resolver sincero.
Não pude faltar. Evitar, pensei. Falei comigo mesmo. Desta vez, aos outros coube esperar. Se soubessem do antes, era mandinga ao fracasso. Justificativa tola, apesar do anúncio á discórdia feito pelo próprio que aqui escreve. Contradizendo o mundo, o sorriso no balcão do bar. Recíproco. A face dela se alegra involuntária sob a luz amarela.
Falamos pois sobre as más e boas escolhas. Sobre as obras Voltairianas e Pessoais.
Sobre os dias de ontem e os que estão por vir. Degraus e abismos. Sobre as máximas e as mínimas. Sobre as telas. Coloridas e desbotadas. Perpetuadas e atrevidas. Em projeções ou exposições, vivia ali nosso encontro. A tela era nossa, fazia sentido. Não desconheci um momento sequer. Íntimo sentimento que contrário era antes de existir. Ao porquê de desconhecer situação em que nunca estive. E prever. Erradamente. Insisto em mania de prever conhecimento por onde nunca andei.
Aos amores chegamos.
SartreBeauvoirTarsilaOswaldChicoMarietaMarilynKennedyLampiãoMariaBonita.
Caberiam outros mil. Dois mil.
Estendido prazo que surpreende por si.
Não falamos de nós dois. Por vez, não caber. Explica-se por trás a razão antes negada que agora é brisa corrente. Veja, é claro. Aí a perfeição. E a vontade de amanhã.

quinta-feira, 17 de abril de 2008

primavera de 85

Quase que na sombra, secretamente.
Sem ousar do orgulho nem tocar nos problemas.
Me aproximo em pensamento ao ponto de fechar meus olhos com teus sonhos.
Entre desesperos e destemperos. Minuto atrás e sem negar no adiante.
Dentro de mim, caminho efusivo aos teus encantos.
Não sei ao menos nem quando. Onde. Como e porquê.
Não me vi em vez dessa forma uma vez se quer.
Talvez exclusiva existência.
Nunca em par, fosse a escuridão.
Mas só há hora para falar de você.
Apertado som que jamais escutei. Basta sonhei. Como tua voz.
E vi oculto, linda primavera. Sonhando vou. Falando de amor.
Ou pensando em você. Tudo se confunde.
Dentro de si, caminha aos teus modos.
Sabe do pouco, talvez do nada. Sei do tanto que sobra.
Espalha-se pelas beiradas. É dadivoso escrever-te hoje.
A sombra sobre a alma e o sorriso esculpido é desejo para o infinito.
Por Deus, um dia puder concreta explicação. Caberá todas as flores.
Hoje, o desejo de você nas estrelas. Todos os dias.

segunda-feira, 14 de abril de 2008

um segundo

já não era onze horas
dias como os de outrora
com fones de ouvido logo te avistei
um bilhete então eu te rabisquei

rabiscos em meus pensamentos
no meu livro, o pressentimento
busquei nos olhos pra te escrever
é o momento errado para acontecer

escrevi um souvenir
para um dia você lembrar
do cara que te fez rir
por um segundo naquele lugar

eu só tinha um segundo pra você me querer


o bilhete virtual tanto tempo depois
aos outros, mentira, mas não pra nós dois
tão improvável, mas ela lembrou
da vida de filme que sempre sonhou

coisas dos filmes que tanto assistimos
quando acontece, nós mesmos mentimos
comigo e com ela, parecia um momento
mas a vida é um filme sem cabimento

escrevi um souvenir
para um dia você lembrar
do cara que te fez rir
por um segundo naquele lugar

eu só tinha um segundo pra você me querer

segunda-feira, 7 de abril de 2008

por conta do dia

Saudade.
O dito unânime.
Corteja todos os corações por onde passa. Saber disso é um passo além.
Definir é falaciar. Coisa insólita é saudade. Singelo já mesmo na pronúncia.
Há dois lados que me consomem desde que pensei na palavra por si.
Por onde pesar?
Saudoso é ir até as lembranças. É mitigar o presente. Compromisso eternizado com o tempo.
É a resposta graciosa para o bom proveito vivido.
Sei tão bem do outro lado.
Do trazer para o hoje. Da lembrança. Bem ou mal. Vividas. Sendo sentidas. Ao tento de repartidas. Repartidas com o último instante e próximo. O presente agoniza em prece pela exatidão de outrora. Chamando de saudade.
Apenas lembrar. Viver de novo.
Diga-me o que é saudade.
A saudosa palavra tão nos ditos poetas.
Talvez saibam do direito.
De definir sua própria saudade.
Aqui só há duas moradas.
Onde cada dia revela seu prazenteiro.
Entre lembrar e querer.