segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

onde andará?

Deixei aqui.
Não encontrei.
Juro que acho que cuidei.
Encostar um amor de canto é perigoso.
Afinal, cada um tem a sua hora e a sua vez.
Vez de ir e de ficar.
Deixar e ser deixado.
Pensei que encontraria.
Como deixar uma moeda no bolso e a procurar noutro dia.
Talvez a encontre.
Talvez não.
Resta ir atrás de outra moeda.
Amor não resta.
Cai como num bolso furado.
E quando vê, já nem sabe quando foi.
Coloquei o amor no bolso.
Em seguro e em desuso.
Agora é tarde.
Caminho sozinho pra reencontrar.
Sem a mínima idéia de onde estar.
Calado, frustrado.
Do amor perdido no mundo.
Se vou encontrar, sorte de tolo.
Conselho que fica.
A pé, devagar.
Afoito, presente e futuro.
Fitado em meus olhos.
Guardado em abraços.
Ali estará.
Bobagem até parece.
Mas pouco cuidado é coisa de ontem.
Perder é razão pra saber.

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

chave

Faz tanto tempo que não somos nem amigos.
Meus caminhos diferentes não são vistos mais nos seus.
Talvez até vivam os mesmos sentimentos.
Mas do que valem os sentimentos sem resoluções?
Meu prazer num prêmio ou numa xícara de café é nada pra você.
Em você só cabem os ouros e os louros.
Vale se gostar?
Não nos falamos.
Sem abraços.
Cadê o bom dia?
As lágrimas...
Você estranha.
E parece que tudo se foi numa única tarde.
Irritante é não esvaziar o seu espaço por aqui.
Limpa a casa, vai.
Vai embora.
Até seus lençóis já viraram panos de chão.
Amores eu tenho.
Vida que me alça num simples compasso.
Sem baques. Sem sustos.
Você e ele são bonitos juntos.
Um belo par.
E meu coração assobia inconsequente quando falo de você.
Inconsciente.
Parece até que ser feliz deixou de ser prioridade.
Prioridade é limpar a casa.
Se me devolver a chave.
Daí me restará ser feliz.

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

poesia

Poesia se faz de tristeza.

Se faz na loucura.

E faz o poeta.

Se fazem os versos.

E faz o sentido.

E daí faz motivo.

Abraçado ao violão.

Ou num banco de praça.

Jogado com certeza.

Escrito sem pretenção.

Não precisa nem acabar.

Poesia boa tem rancor.

É bela de olhares.

Sutil de amores.

Precisa de forma e folha?

Existe só de pensar.

Parece coração sem fundo.

Que cuida da alma enquanto me perco.

Vejo a poesia como um beijo.

Cativo idéias e meus traços.

É nesse sentido que tudo se cria.

Num poesia que nada diz.

É dito apenas poesia.

terça-feira, 28 de outubro de 2008

redescobrir

A cidade ecoa saudade.
As vozes que escuto não têm o seu jeito.
Nas mãos, nada da sua delicadeza.
Ainda é cedo pra dizer.
Ainda é nova essa saudade.
Que foi durante tanto tempo vontade.
Cheio de esperança.
Espera que pulsa o seu nome.
Ontem foi lindo.
Sem vontade de ser lindo.
Simples foi.
E o desuso do amor na minha vida se desfez.
Como tirar um velho palitó do armário.
Parece que ele nunca me caiu tão bem.

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Te amo? Não lembro...

Nada mais me lembra você.
Desgarrar do travesseiro agora é só a hora de acordar.
O dia não se anuveia em céu pelado por lembrar das nossas.
Minhas loucuras das noites vagantes não são mais espera em te encontrar.
E cada sorriso que recolho, em nenhum mais vejo sua boca.
Já leio poesias e ouço canções que mostram outro sentido.
Vivenciar as coisas sem devidas emoções.
Há graças que só nisso eu percebi.
Agora dou chance a todas elas.
Aberto coração que agora é lançado no espaço.
Alinho minhas notas e faço meus versos.
E nada de rememorar de onde vinha minha inspiração.
Dor já não sei por onde vai. E de onde veio.
E o balouço das minhas diretrizes parece tão preciso.
Meus sábados estão bem, obrigado.
São vivos, não faço idéia de como eram seus gestos.
Aliás, um absurdo pensar que tardes e tardes caminhando com você era sinônimo de felicidade.
Trocando em míudos, já não tenho certeza se fui feliz.
Pois é cantante a vida agora.
E a melancolia já não beira o infinito de quando você se foi.
Sem dizer laços nem abraços.
Posso até rir como um insólito insensível insensato.
Não é desdém.
É que simplesmente você se foi um dia.
E num dia chegaria o esquecimento.
Sempre haverá um dia.
Mesmo que haja o dia de rabiscar tudo isso numa folha.
Já sabendo que nada mais me lembra você.
Prometo que lembrei só para escrever.

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

o tempo na janela

Alguns passos até o passado.
Um breve pedido para retaliações.
A sombra que insiste em me alcançar os pés.
É quase um retrato que esqueci de cobrir.
A única lembrança que não me faz confundir.
É.
Eu queria estar com você.
Fazer tudo diferente, falar de coisas sobre nós.
Dos mesmos planos já escritos por você.
Naquele papel que fiz questão de não me importar.
Tanto furor por aquela época me deu asas tortas.
Mas nada faria ser melhor.
Voar era a melodia.
Numa futura poesia.
Troquei tudo.
Sem saber do que viria.
Talvez fosse pra pousar aqui.
E hoje ter palavras pra escrever sobre o que nada foi.
Trocaria eu uma infelicidade por outra?
A obviedade da utopia é o que me faz pensar.
Insisto em querer que não é sentimento.
Penso até que é porque não foi.
Tocar aquele disco todos os dias da minha vida.
Como posso querer, ora Deus!
Aquele mesmo disco que nada vi ou senti quando ouvi.
É o fio da minha vida alimentar estranha confusão.
Pode ser que me fez uma pessoa melhor.
E te quise melhor. Muito melhor!
Todo o ar que respirei e nada cheguei.
Haverá razão no meu choro.
Se existir o riso teu.
É quase certo que resistirei calado.
E se houver sentido, no próximo futuro pensarei duas vezes.
Por que nesse que escolhi, vivi a te procurar.
Você tinha os olhos, o cabelo e o jeito da prosa.
E só Carolina não viu...

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

homem duplicado

Passarei do ponto por um dia sequer.
As minhas palavras serão impostas pelos sentimentos.
E nas verdades que refletirei, finco todas as mentiras de todos nós.
O fato é que sempre existem dois eus.
Já vistos em filmes e livros.
Um é sempre aquele que vai comigo em encontro a todos nós.
Que dá bom dia, critica as escolhas e procura se alegrar em agrupamentos.
O outro é só meu.
Que está só comigo.
Na minha singela solidão.
Nunca somos o mesmo.
Ninguém é.
É fruto para um interesse coletivo o fato de sempre nos dividirmos em dois.
Por que não dizemos tudo que pensamos?
Evitamos muitas vezes a alameda da discórdia.
O problema é visto como quem não sabe equilibrar as suas pessoas.
Tachados são de loucos.
E até onde se importar vale razão?
Por que meus pés não seguem uma única direção?
Escolhas dadas aqui podem dizer tanto em poucos corações.
Num pedaço pequeno que seja, quero minhas duas facetas encarnadas de uma vez só.
Posso flutuar então entre estradas invisíveis.
E de contador de histórias, passarei a tradutor de sonhos.

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Valei-me, Deus!

Há bem uns três anos atrás, eu era magro de dar dó.
Há dois anos atrás fui descobrir o que era um projeto de barriga.
No ano passado já exclamavam na cara dura: - Nossa, como você engordou.
E nesse ano, ao ver minha bunda numa calça tamanho 44 parecendo com a da Carla Perez, resolvi entrar na academia.
Logo eu, porque comigo?
Pensei e relutei por algumas semanas.
Pensei em soluções até.
Remédios? E o medo das coisas não funcionarem direito?
Parar com cerveja?
Bem, lá estava eu debruçado no balcão para fazer a matrícula.
Avistei lá dentro uma legião de bicicletas ergométricas, aparelhos de tortura, um monte de gente pra estampar capas de revistas e alguns outros que pareciam estar na mesma situação que eu.
Um martírio.
A música que vinha do andar de cima era um bate estaca de dar dó.
O que será que acontecia por lá?
Vem a atendente toda sorridente.
Me pergunta se não quero aula disso, daquilo, e daquilo outro.
Eu bem curto e grosso fui respondendo negativamente.
Queria uma esteira, uma bicicleta e olhe lá.
E ela ainda me cobrou os olhos da cara por isso.
Me disse que com o tempo eu começaria a malhar, conhecer gente legal, puxar ferro (?!?!) e bla bla bla... fui embora reclamando da vida.
Era o cúmulo do absurdo.
Dia seguinte. Tenho que me animar.
Fui dormir pensando assim.
Acordei pontualmente com o despertador.
Vesti meu conjunto de moleton, meu all-star mais surrado, coloquei um boné, peguei um livro, uma revista, uma coca-cola zero e lá fui eu.
Entrei. Minhas pernas estavam bambas.
Era tanta gente trabalhando os músculos frenticamente que me deu a impressão que ninguém pensava naquela lugar.
Só corriam, levantavam peso e pulavam no ritmo da música.
Peguei uma esteira rapidamente e comecei a caminhar.
Tive a impressão que todos ali estavam olhando para mim.
E realmente estavam.
Não deu míseros cinco minutos e ironicamente vem uma garota de propaganda de cerveja falar comigo.
- Você é novo aqui, certo?
Me diga algo que um gorila não sabe, pensei.
- Sou sim, primeiro dia. Parece?
E ela, como explicando para uma criança.
- Pois é. Sou instrutora aqui meu nome é (bocejei na hora do nome e não sei até agora, talvez seja Marta, Mara ou Mayara). Logo vi que você é novato, seu tênis está errado, sua roupa está errada e sua alimentação também.
Como assim? Porra, que merda!
Eu me preparei para esse momento, tentei não esquecer de nada e ela vem me dizer que eu tô todo errado? E quem disse que eu quero estar certo?
Respirei fundo e respondi com calma que logo eu pegaria o jeito.
Depois pulei para a bicicleta e daí para a rua sem mais nenhuma palavra.
Meus músculos doíam demais.
Mas senti que tava cumprindo a missão.
Dia seguinte a mesma coisa.
Quando tem noite de bar é mais complicado de levantar.
No terceiro dia, esqueci que ia para academia e apareci lá de calça jeans.
Pude até ouvir os pensamentos.
- Olha que otário! hahaha
Bem, é certo que não é o melhor lugar do mundo.
Mas pode se tornar o pior se todos na academia te olharem torto.
Ontem vi uma garota alisando o braço de um cara.
Eu jurava que tava num filme do mais estereotipado.
Mas é a bela e doce vida real.
Vem a instrutora de novo e me diz:
- Olha, você está progredindo. Logo mais estará igual a ele, apontando para uma mistura de Schwarzenegger com Mike Tyson.
Olhei para todos os cantos à procura de um revólver, mas não encontrei e preferi sorrir discretamente e me recolher na minha insignificância momentânea.
Sim, eu sou o mais odiado do recinto.
Ninguém conversa comigo, demoram na esteira só para eu não usar, entram no chuveiro antes de mim e uma vez ficaram até abanando com a mão quando cheguei comendo um x-bacon.
Ainda não sei o que acontece no andar de cima onde há música e todos gritam, mas qualquer dia matarei a curiosidade.
Logo mais estarei livre disso.
E tudo isso só serviu para eu confirmar uma coisa.
Eu nunca farei um amigo tomando gatorade.

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

entendimento

Já não me sinto culpado.
Talvez seja normal de todos nós.
Deixar alguns nós parecer casual.
Entendo como devia.
Foi preciso ver onde não acreditava.
Na vida sua e naquele outro.
Em muitas vezes, de quem está do seu lado.
A grande questão da felicidade pode estar por perto.
Vejo algo próximo de aprender a libertar paixões.
Aprisionar os sentimentos desde então será um retrocesso.
Pois ainda estarão elas ali nos mesmos lugares?
Tocando a mesma música.
Vivendo como se atuasse.
Sorrindo do mesmo jeito.
Mas minha vida agora é outra.
Ainda há o direito de guardar uma gota de talvez?
Mesmo vivendo em outra felicidade, culpa agora é coisa de valor barato.
Pensar que nunca mais, deixava a ponta da alma dolorida.
Num caso, pela graça que teve.
Para o outro é pela intensidade que se renova de época em época.
E por fim, afinal, nossa história merecia um final melhor.
Meus sentimentos abissais agora estão bem aqui na minha frente.
É como se olhar no espelho e não ter o que esconder.
Ter certeza que não há nada de errado em acreditar.
Acreditar que pode haver tempo.
Tempo para aspas e parênteses.

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

incerteza

Acordo na varanda de uma cabana.
Nas ilhas Fiji o mar é mais azul do que o céu e faz curioso contraste com o sol.
Caminho um pouco pelo Central Park e logo depois tomarei café na Champs Elise.
Apresso-me ainda pra não perder o sol da manhã e vejo as ondas no Havaí belas como nunca.
E já fugindo do sol, uma rápida passagem pra pegar a brisa nas ruínas gregas.
É hora de almoçar. Na dúvida, comida japonesa em volta do monte Fuji e me acanho num canto no topo do Kilimanjaro para aquela providencial soneca.
Acordo para umas compras em Milão.
Um pulo no Louvre pra me inspirar e outro em Veneza pra me apaixonar.
Na Escócia, paro por um gole de uísque e em São Petesburgo para uma dose de vodca.
Relaxo em passos lentos pela Muralha da China até chegar na Cordilheira dos Andes, sem me esquecer de passar por Compostela.
Fim da tarde e é hora de esquiar. Desço em ritmo acelerado pelas montanhas de Aspen e encontro o chão em Genebra.
Preciso me correr. Ver o pôr-do-sol das pirâmides do Egito é um dos meus programas favoritos.
Os violeiros mexicanos embalam o meu jantar regado de alegria.
Já vejo a lua e chuva. É hora de beber com os amigos na Abbey Road.
Quando a noite esquenta, corremos para Barcelona para não perder nada da festa.
Cansado, difícil dormir às cinco da manhã com essas luzes de Las Vegas.
Ainda tenho dúvidas se fiz a escolha certa.
Pensar que uma volta de mãos dadas com ela e um beijo antes de domir me fariam mais feliz que essa vida que levo.
Pode parecer loucura.
Vai saber.

sexta-feira, 18 de julho de 2008

depois

Hoje é tão claro.
Como seria em um milhão de anos.
Mas há tempos distantes, bobagem.
Só naquele instante seria riso sem importância.
E bem ali houve a hora dela.
A discrepância soando como um megafone em meus ouvidos.
E chora o coração. Pela anunciada frustração.
Ou porque gostei depois da hora.
Mas onde que fui encontrar que era ali naquele instante?
Que era a menina do assobio colorido.
É que foi um tanto de tempo depois.
Onde já não havia mais.
Encontrei belos aqueles momentos que passamos.
Quando presentes, mal me importavam.
Brinquedo das horas tratantes. O amor foi assim mesmo.
Era ali minha época de vida solta.
De experimentar o gosto do mundo.
Eu trilhava o verdadeiro.
E hoje, é oposto.
Deve ser daí que dizem sobre verdade relativa.
Hoje, o sorriso diz muito mais do que o momento me trouxe.
Cabe-me a dúvida.
Sobre graças da vida.
Ainda sobre aquele momento, bem aquele.
Era só para uma posterior indagação?
Ficou na foto uma séria ilusão.
Em que hoje os beijos seriam doces.
Ilusão que permanecerá mesmo descoberta.
Onde ainda duvidarei das minhas intenções.

terça-feira, 24 de junho de 2008

sete dias

É no meio-fio. Entre lá e cá.
Que de certo não sei até onde ir.
Tenho certeza que quase sei o que posso.
É que depois dela as coisas se tornaram diferentes.
Lembro ainda da primeira semana.
De conhecer o tom da voz e saber sobre o animal de estimação.
É na graça que houve.
No riso ali do seu sorriso.
Agora me encontrava.
Ali.
Todas as boas coisas que descobri pela vida.
Agora se mostram normais.
A sorte era só uma.
Tanta coisa contida por esses instantes.
A vontade de saber muito mais. De vasculhar escura caverna.
Parece que sei tão pouco e já o pouco, por eternidade, bastaria.
Por oras, entendo que deve haver muito mais do que o que ela compartilha comigo.
Até onde vão os seus limites.
Os últimos pensamentos do dia?
Aqueles que até mesmo ela se esquece.
As várias estradas das suas idéias.
E bem ali seria morada.
Difícil explicação, sei.
Se ela fosse aqui, reescrever meus erros seria coisa simples.
Perto de você, o ontem deseja o amanhã.
E o agora agoniza para não ir embora.
A saudade se torna coisa de até antes de nos conhecermos.
Tudo estava na primeira semana.
O mundo era ali.

segunda-feira, 16 de junho de 2008

fio de instante

Por segundos. Em horas. Cabe os milênios.

No tempo que era passado. Em instantes, futuro.

Mas sempre se encontra agora.

Melhor seria ontem ou amanhã.

Foge da vista, parece que não chega.

Contudo, de tão veloz que não vemos passar.

Estranha contradição.

Falamos do futurismo e dos antiquados.

É simples relação desse senhor das separações.

O tempo.

Aos seguimentos que vazariam do papel.

Eras, anos e frações de segundo.

É tudo do tempo.

Tento até em brincadeira.

Será que houve um ínfimo segundo que escapou do tempo?

Em que ele se perdeu?

É egoísta por muitos.

Escolhe os prediletos. Por presentear em surpresa hora.

Chamamos de sorte.

A precisão que nos falta é concedida ao tempo.

O tempo que nos parece sempre um tanto retardado.

E em vezes de apressado demais.

A exatidão nele é nossa constante preocupação.

Atribuem ao tempo resolver. Dizem que é de apaziguar.

Até mesmo que não falha na justiça. Tarda.

É tão belo assim?

E eu que pensava que só era dono do relógio.

Por tantas vezes, afaga com uma mão e logo ali, recolhe a alegria com a outra.

Num mestre, coube o dito da eternidade ao invés da modernidade.

É se colocar na altura do tempo.

Desafiar não se perder no meio do gigante. Perpetuar.

Cabe aqui o desejo do mestre.

Onde o tempo vai ficar. Mas também chegará.

Sem notar nem ser notado.

Vou tentar ali estar, do lado dele.

Por dúvida, vigiando esse senhor pra que seja bondoso comigo.

Desperdiçá-lo soaria como insulto.



segunda-feira, 19 de maio de 2008

reflexos

Ao que escrevo?
Pois vivo em poucos dias.
Existo em quase todos.
Ser exato, buscar as fantasias.
Me enrolo em um cobertor de dúvidas.
E jogo os lençóis das decisões para o alto.
As minhas poesias existem na humildade.
Por meus contos, as complexidades.
Vago no seu coração. Em suas lamúrias.
Nas verdades que nos separam.
Me banho em idéias.
Inspiração que vem de todas as coisas.
Em nada um descarte.
Pretensão de tirar de você tudo que posso.
No ponto de você me olhar e ali estar contidas tantas palavras.
Que na sensibilidade, me obrigo a escolher as certas e presentear uma folha.
Inclino meu peito aos céus e troco as letras de lugar.
Coloco meus olhos nas cinzas e vejo reinos inteiros de descobertas em prosas.
Quero talvez criar o meu mundo.
Envolto de azul, sem parágrafos ou vírgulas.
Aos tantos mestres que cativam. Clareiam e escurecem.
São minha noite e meu dia.
Na intensa busca pelos meus próprios sentidos.
Quero um despertar iminente.
Onde eu possa acordar e encontrar palavras.
E essas regarão sonhos.

segunda-feira, 12 de maio de 2008

a língua das mulheres

Entrelinhas.
Espaços grandiosos.
De dizeres azul falando em vermelho.
Das mulheres. Por minhas mulheres.
Antagonizam com minhas idéias. Precisão em confundir.
Se palavras por elas vão em diagonal, como procuro em firmamento?
Estarão aos anjos. Calarão as estrelas.
Mas me encontro em procura.
Por poesia, explicado.
Em vivência, um percalço.
Ventura daqueles que o sabem.
Do entender das mulheres.
As juntas mãos não me dizem.
O coração palpita sereno e resposta não espelha.
As horas em encontro são revestidas de incertezas.
O sentimento é diletante. Verdade instiste em não haver.
Vou de contracorrente, sei.
Ao pensamento que me envolve todos os dias.
Que outrora achado que compreenderia.
É assim mesmo.
Calculo em versos e acho em sentidos vagos.
As idéias compassadas.
Ao ponto de não ter.
Tendo todos os dias.
Como prosa de felicidade.
Explico-me aí.

segunda-feira, 5 de maio de 2008

Feche seus olhos

Aos cruzamentos é possível razão.
Vidas que se cortam.
Cruzes da vida que carregamos.
Ou vezes rotas de sorte em encontro.
Aos tantos esbarros de todos os dias.
As tantas promessas que não concretizam.
Aí você.
Descola-se da normalidade dos encantos que se vão.
É assim pela pungência anunciada para amanhã.
Até vejo onde parar. Me vejo num par.
Vejo mais perto, com medo.
Do jeito que faço ter gosto.
Em ponto das coincidências.
Perco-me na sonoridade. Nos seus papos. E rio do seu sarro.
Vira a mesa dos meus sentidos. É pisar nas estreitas ruas.
É bailar em escura noite.
Perco a hora desde então.
Confundo com minhas palavras e esclareço nas suas.
Numa esquina, na menos exata. A mais bonita.
E menos provável.
A esquina que desenho como sorte.
Cruzada está. Ficando vou.
Amarei?
O corte de cabelo e a banda favorita bastaria.
Mas é ponte muito além.
Que pareço seguir vendado.
Irei?
Um passo e um pensamento.
Talvez no final dela, desvendados os meus segredos.

quinta-feira, 24 de abril de 2008

segunda vez

Parecia um desastre. Não ficaríamos ali mais do que ínfimos quinze minutos.
Passado tempo já não encontrava motivo. Mas me sentia atraído a um resolver sincero.
Não pude faltar. Evitar, pensei. Falei comigo mesmo. Desta vez, aos outros coube esperar. Se soubessem do antes, era mandinga ao fracasso. Justificativa tola, apesar do anúncio á discórdia feito pelo próprio que aqui escreve. Contradizendo o mundo, o sorriso no balcão do bar. Recíproco. A face dela se alegra involuntária sob a luz amarela.
Falamos pois sobre as más e boas escolhas. Sobre as obras Voltairianas e Pessoais.
Sobre os dias de ontem e os que estão por vir. Degraus e abismos. Sobre as máximas e as mínimas. Sobre as telas. Coloridas e desbotadas. Perpetuadas e atrevidas. Em projeções ou exposições, vivia ali nosso encontro. A tela era nossa, fazia sentido. Não desconheci um momento sequer. Íntimo sentimento que contrário era antes de existir. Ao porquê de desconhecer situação em que nunca estive. E prever. Erradamente. Insisto em mania de prever conhecimento por onde nunca andei.
Aos amores chegamos.
SartreBeauvoirTarsilaOswaldChicoMarietaMarilynKennedyLampiãoMariaBonita.
Caberiam outros mil. Dois mil.
Estendido prazo que surpreende por si.
Não falamos de nós dois. Por vez, não caber. Explica-se por trás a razão antes negada que agora é brisa corrente. Veja, é claro. Aí a perfeição. E a vontade de amanhã.

quinta-feira, 17 de abril de 2008

primavera de 85

Quase que na sombra, secretamente.
Sem ousar do orgulho nem tocar nos problemas.
Me aproximo em pensamento ao ponto de fechar meus olhos com teus sonhos.
Entre desesperos e destemperos. Minuto atrás e sem negar no adiante.
Dentro de mim, caminho efusivo aos teus encantos.
Não sei ao menos nem quando. Onde. Como e porquê.
Não me vi em vez dessa forma uma vez se quer.
Talvez exclusiva existência.
Nunca em par, fosse a escuridão.
Mas só há hora para falar de você.
Apertado som que jamais escutei. Basta sonhei. Como tua voz.
E vi oculto, linda primavera. Sonhando vou. Falando de amor.
Ou pensando em você. Tudo se confunde.
Dentro de si, caminha aos teus modos.
Sabe do pouco, talvez do nada. Sei do tanto que sobra.
Espalha-se pelas beiradas. É dadivoso escrever-te hoje.
A sombra sobre a alma e o sorriso esculpido é desejo para o infinito.
Por Deus, um dia puder concreta explicação. Caberá todas as flores.
Hoje, o desejo de você nas estrelas. Todos os dias.

segunda-feira, 14 de abril de 2008

um segundo

já não era onze horas
dias como os de outrora
com fones de ouvido logo te avistei
um bilhete então eu te rabisquei

rabiscos em meus pensamentos
no meu livro, o pressentimento
busquei nos olhos pra te escrever
é o momento errado para acontecer

escrevi um souvenir
para um dia você lembrar
do cara que te fez rir
por um segundo naquele lugar

eu só tinha um segundo pra você me querer


o bilhete virtual tanto tempo depois
aos outros, mentira, mas não pra nós dois
tão improvável, mas ela lembrou
da vida de filme que sempre sonhou

coisas dos filmes que tanto assistimos
quando acontece, nós mesmos mentimos
comigo e com ela, parecia um momento
mas a vida é um filme sem cabimento

escrevi um souvenir
para um dia você lembrar
do cara que te fez rir
por um segundo naquele lugar

eu só tinha um segundo pra você me querer

segunda-feira, 7 de abril de 2008

por conta do dia

Saudade.
O dito unânime.
Corteja todos os corações por onde passa. Saber disso é um passo além.
Definir é falaciar. Coisa insólita é saudade. Singelo já mesmo na pronúncia.
Há dois lados que me consomem desde que pensei na palavra por si.
Por onde pesar?
Saudoso é ir até as lembranças. É mitigar o presente. Compromisso eternizado com o tempo.
É a resposta graciosa para o bom proveito vivido.
Sei tão bem do outro lado.
Do trazer para o hoje. Da lembrança. Bem ou mal. Vividas. Sendo sentidas. Ao tento de repartidas. Repartidas com o último instante e próximo. O presente agoniza em prece pela exatidão de outrora. Chamando de saudade.
Apenas lembrar. Viver de novo.
Diga-me o que é saudade.
A saudosa palavra tão nos ditos poetas.
Talvez saibam do direito.
De definir sua própria saudade.
Aqui só há duas moradas.
Onde cada dia revela seu prazenteiro.
Entre lembrar e querer.

quinta-feira, 27 de março de 2008

A tal

O que existe na atriz?
Por que todos escrevem sobre ela?
É inesquecível. Instiga, rouba, dilacera.
Faz de mim o que bem quer.

Fosse uma estudante de medicida. Centrada nas suas ciências e procura constante da segurança do amor na compensação pela devoção à profissão. Cardiologicamente resumido a um bom funcionamento. É de poucas aventuras.

A engenheira na precisão do seu compasso. Traçaria linhas firmes ao fundo. Talvez até pudesse eu calcular o jeito todo. A forma como aconteceria. Me soa como certo na intenção do apoio no amor.

Quiçá até a professora de línguas. Nas suas viagens e rodeios, todos os caprichos dos autores consumidos durante sua vida. Já participara no seu íntimo das mais belas histórias de amor. A idealização e realização já me passa entre o certo e o incerto, mas o caminho ainda me parece provável. Já me sugere alento. Intriga, mas não me suspira.

Mas é a atriz.
No seu mundo de mil amores. Na sua vida sem rumo, hora ou cabimento. Cabe em cada gesto dela, mil noites dos meus pensamentos. Sua vida é o palco. Sua pele, qualquer personagem. Seria eu um contracenante? Na conjectura, sei que tenho o meu pedaço nela. Mas é parte dum todo. Nunca será o todo. É meu porquê de ser ela e não tê-la. Emoções saltam pelos seus poros dia e noite. Distribuí-la na sinceridade é meio como obrigação por ser quem é. Se eu cativasse de outra forma, bem no começo. Talvez outro destino. Hoje, já a encarnação daquela que no cinema, na televisão e no palco pára os meus olhos para observá-la. Hipnose da sua vertente. Daria o meu mundo. Faria o meu mundo. Entretanto, borboleta que seria um pecado guardar. Na minha angústia, desperta a coerência.
Balança-me como o vento. E logo não sei onde está.
Impróprio é pensar sem.
Por ser a atriz.

segunda-feira, 24 de março de 2008

Róque triste

Ah, seus discos na vitrola embalavam os meus suspiros
As histórias que contava eram regadas a guitarra e vinhos
E desde aquele dia, pensei encontrar
Em você a resposta pra saber o que é róque e amar

Meu solo com você era brindado em acordes
As noites passavam, esquinas, sim, eu tive sorte
Nas linhas cantadas, você era o meu mundo
Mas seus róques dizem que as coisas vão em um segundo

E agora sobrou um refrão e um pouco de amor
Esse róque eu faço com meu dissabor
Na vida dos outros consigo enxergar
A dor que eu sinto é tão popular
Felicidade é questão de hora
Mas parece que nunca é agora

O Sol pela manhã nos avisava da hora de parar
E hoje, vejo você bailando seu róque com outro par
No gosto, minhas letras de mau agouro
O óbvio do meu róque é o amor sempre para o outro

quinta-feira, 20 de março de 2008

Ela

Ela na tela.
Quão bela.
Mesmo que na novela.
Poderia ser a minha janela.
Uma pintura de aquarela.
Um jantar à luz de vela.
Cinderela?
Ela.

quarta-feira, 12 de março de 2008

invisível

Incríveis se tornaram as vezes que nos encontramos. Tão corriqueiras como as chuvas de granizos. Minguadas e quase que arrebatadoras.
Já faz algum tempo, éramos principiantes. Hoje, ao menos no papel, somos entendidos.
Soa exatamente como da primeira vez. A imagem bem compassada diante dos meus olhos, o sorriso que pára antes de entrar nos meus lábios e uma sensação de “é ali que eu queria estar”. Entenderam agora o porquê de serem incríveis. É como se ela entendesse tudo, mas todo entendimento não se revelasse em ações. Cada gesto, desde o primeiro instante, se mostrava eterno naquela fração de encontro. Chega a beirar o inexplicável, mesmo que seja tão expressivo somente quando acontece. Quando nos encontramos. Um botão de liga e desliga? Talvez nunca entenda.
O curioso é que tanto já se passou e nunca deixei isso maior. Fui a lugares que importavam muito menos, mas ali, no mais singelo, desconheci. Congelei no primeiro instante. E fiz desse instante todos os outros. Se eu fugisse da primeira impressão, tudo poderia desaparecer. Até soube mais, explorei tudo de um modo natural. Parecia até que éramos amigos. Soube dos gostos e dos casos. Casados com os meus, como bem sempre.
A última vez foi como todas. Mas no fim da noite, desfolhou um quê de diferença.
Tudo dito nas linhas acima é fruto duma percepção tardia. Ou precisa. Não colho lamento dessa história. Até agora ela nem tinha existia. Existiu quando percebi. Quando o sentido era perceber. Não existe mais razão para sair da primeira impressão. Ela me cativou de tal forma que mal me dei conta. Na minha memória, trará conforto como coisas tão vividas quanto isso não foi.
Eternamente responsável por aquilo que cativas. Puro clichê.
Até nisso combinávamos.

quinta-feira, 6 de março de 2008

Casualmentestranho

De primeira instância, foi um sonho.
E, hoje, minhas próprias imagens parecem ter sido inventadas.
Como quando, após muito tempo, você encontra um pedaço de papel no qual você escreveu um sonho na primeira hora da manhã. Você lê com assombro e não reconhece nada como se tivesse sido o sonho de outra pessoa.
E, assim, eu hoje acho difícil acreditar que passei por aqueles momentos onde eu via o mundo de uma forma que difere do presente.
Minhas lembranças pareciam as de um sonâmbulo: Aquela sensação tão familiar e tão íntima parecia fruto de tantas músicas, dos tantos livros e dos certos filmes. Diagnosticando a mente, as sensações começaram a se pôr em coerência.
E no fim, me dei conta que era essa intimidade que buscava em você.
A íntima sensação com o desconhecido. Continuamente.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Reencontro

Se acontecesse, seria mentira. Se não fosse, diria que era. Híbridas sensações ao primeiro instante. Curiosidade atrealada ao conhecimento que outrora fora de um doutor, mas que agora não passa a de um mero leitor de primeira viagem. A boataria tinha se espalhado. Tantos nomes e histórias dignas de Cristõvão Colombo. Impressões e julgamentos dos espectadores, pois assim chamávamos aqueles que nos observavam como maricotas nas janelas.
A música não tocava mais, talvez por isso eu mal lembrasse das palavras. Meu receio se encontrava em estado de coma, embora a minha existência negasse por si mesma que ele existisse. Não era preciso conjecturar muito para notar que a ausência tinha se tornado indiferente. Com destreza e involuntariamente me equilibrava no fio que dividia o passado do futuro. O presente não existia. O suor das mãos. Hesitei. Só podia ser assombração. Não eram as mesmas cores, participantes, nem ao menos as vozes, mas tive que valorizar que o tempo foi mais bondoso com ela. Os assuntos se perdiam em meio à falta de sintonia. O que praticamente era extensão do meu corpo, mente e coração, agora era um encontro ao desconhecido. Minha cabeça entrou em parafuso. O coração se mantia invólucro. Ele já não me pertencia. Seria preciso a dona me entregá-lo para que talvez eu pudesse o controlar.
Vento. Que você só percebe quando passa. A comparação foi inevitável. Ficou o modo de mexer nos cabelos, o jeito com que ela olhava as unhas e o sorriso meio sem graça com o canto esquerdo da boca. Graciosidades mantidas meio como por herança de uma outra pessoa.
Quando parti, me perguntaram:
- E os olhos?
Meio de ombros, respondi:
- Os olhos? Não tenho a resposta se eram os mesmos. Meu palpite? Talvez esbranquiçados e escondidos por um destino impensável, mas ainda sim poderiam ser o mesmos. Sem pestanejar, os evitei. Sabia que não eram mais a bússola da felicidade. E os olhos têm poderes que desconhecemos. Melhor negá-los. Qualquer desconforto soaria como valente, entretanto, acredito que seria inútil. Afortunadamente, eu amo outra vez.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Veja bem, meu bem

Ela acordou alguns minutos atrasada. Banho rápido e um dentre nove iogurtes lights que estão na geladeira e ela está pronta. Manobra o carro rapidamente, pois é muito segura de si no volante.
No primeiro farol, se abre o estojo de maquiagem. Alguma sombra para corrigir as fracas olheiras das noites mal dormidas. O trabalho a tem consumido. Um lápis preto pra fortalecer ainda mais seus traços e uma rápida escovada nos cabelos. A vida foi graciosa com ela, pois parece que passou o dia no salão.
No próximo cruzamento, leva uma fechada brusca de um ônibus. Ela buzina veemente, acena com a mão e pronuncia algumas palavras que não combinam com tanta beleza. O motorista ri e ela se enfurece. Afinal, sabe muito bem o que faz e fica indignada quando não é levada a sério.
Chega na agência. Sai do carro rapidamente puxando a bolsa. Sorridente, cumprimenta o Seu Valdisnei da portaria e agradece por ele ter manobrado o seu carro enquanto ela estava em reunião. Passa quase que correndo pelo corredor e entra na sua casa, digo melhor, sua sala. Algumas flores, fotos de fotógrafos famosos, reproduções de Vangó e Miró. Notebook sobre a mesa, cafeteira no canto da sala, poucos porta-retratos. CDs e DVDs espalhados por todo canto. Três diplomas emoldurados. Universitário numa universidade particular, mestrado na tão desejada pública e doutorado na Inglaterra. A mobília é toda antiga, escolhida a dedo.
O telefone toca, sua secretária diz que os clientes internacionais já estão prontos para reunião.
Mesa posta. Clientes, diretores e investidores. A reunião acaba em algumas horas.
Ela volta satisfeita para a sua sala. Sabe o quanto é boa no que faz. Sabe o quanto é bonita. Sabe o quanto se preparou para a vida.
Almoça com algumas amigas. Salada e grelhados. Conversam sobre moda, filmes, trabalho e homens. Ela não se alonga no assunto e diz que homem não faz parte dos seus planos.
A tarde é de telefonemas e acertos com prazos e produção. A campanha será monstruosa. Já era meio da noite e ela fecha a porta da sua sala, dá um adeus exausto para os sobreviventes na agência e desce as escadas calmamente.
Um trânsito de vinte minutos para andar três quilômetros faz ela ligar o rádio e cantar desenfreadamente. Beatles, Noel Rosa e aquela banda do seu amigo, último affair da sua vida.
Chega na academia, quinze minutos de esteira e revistas de comunicação, quinze de bicicleta e uma folheada rápida na Vogue. Aeróbica por outros quinze. É precisa como um relógio. Um banho mais rápido do que o da manhã, um lanche natural na lanchonete e lá está ela de volta no carro. Não pronunciou uma palavra nesta última hora.
Em casa, a banheira já está pronta pela sua empregada, fiel escudeira há seis anos. Ela escuta a novela que vem do quarto dos fundos e apenas sorri. Pega seu Sartre, que começou há um mês e não consegue terminar, entra na banheira e ali permanece por mais de uma hora.
Na king size, fica na dúvida entre episódios daquela famosa siticom e o filme francês indicado pelo amigo gay. Escolhe as risadas, mas em poucos instantes está encolhida, num mínimo canto da sua gigantesca cama. Cobre o rosto com cobertor e tenta esconder uma lágrima que desce desenhando a sua face. Parece que quer esconder o choro de alguém, mesmo estando sozinha. Talvez, dela mesma.
No fundo, ela só queria o amor. Mesmo que ela não saiba.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

De todas as maneiras

Ontem mesmo eu pensava sobre as injustiças da vida. Uma delas é o Chico Buarque.
Pra começar, sem culpa alguma, ele começa filho do Sérgio Buarque de Holanda, o cara que definiu nosso país em Raízes do Brasil. E só pra não passar em branco, é sobrinho do Aurélio Buarque, aquele mesmo do dicionário. O que conquistaria qualquer uma que visa ingressar numa família de nome. Aplausos para ele.
Poucos sabem, mas o Chico aos 18 anos roubou um carro para passear por São Paulo com um amigo e mais adiante, na música Jorge Maravilha, manda um recado para o bonzinho general Geisel que governava nosso país. Recado simples, tipo: - Peguei sua filha e foda-se! E ainda dizem as más línguas que ele batia na Marieta. Diz pra mim se ele não conquistaria qualquer uma que tem aquela famosa tara por maus elementos? Ponto para ele.
Nosso grande hermano Chico Buarque de Hollanda foi considerado o inimigo nº 1 da ditadura militar. Foi preso, fez as mais incríveis cartas de protesto, foi exilado, brigou, voltou, driblou a censura. Enfim, um auê só. O Juninho da Adelaide deixaria as estudantes gostosas, politizadas e tietes do Che e do Lênin em fila. E sem as calças.
O digníssimo amado e bem visto Chico Buarque escreveu algumas das peças mais espetaculares do nosso país.
As atrizes então seriam sopa.
Os livros? Perdi as intelectuais.
O Seu Francisco, que foi carinhosamente assim chamado pelo Oswaldo Montenegro, tinha alguns amigos, que ele chamava de parceiros. Coisa fraca. Tom Jobim, Vinícius de Morais, Edu Lobo, Milton Nascimento, Caetano Veloso, Francis Hime.
As interesseiras fariam plantão na porta do homem.
Carioca e futebolista. Este tipo de mulher não necessita de apresentações.
Talvez eu tivesse alguma chance na música. Construção, Feijoada Completa, Pedro Pedreiro, Vai Passar, Á Flor da Pele.
Pô, eu posso conseguir isso! Não parece tão difícil.
Mas o amado corno do Chiquinho tem a porra da alma feminina, ou seja, pensa como mulher. E por fim se vão todas as mulheres do mundo. Que filho da puta!
Nelson Rodrigues sabia das coisas quando disse que todo homem ao lado do Chico é um corno em potencial.
A vida é assim mesmo. O pior de tudo é ainda por cima eu gostar desse cara. Aliás, nem me esforço pra esconder que ele é o meu favorito. Vou fazendo a minha às custas dele, fazer o que? A vida é sempre injusta, mas alguma vez ela poderia ser injusta ao meu favor.
E nem falei dos olhos azuis.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

quero ver

Deixo os olhos para o final.
Afinal, neles estão todos os segredos.
E todas as mentiras.
Fascinam independente de serem verdadeiros.
É o ponto letal. A bomba atômica do coração do homem.
Providos de toda boa e má intenção são capazes de tudo.
E tudo se reflete neles.
Basta enxergar.
Com os olhos.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Fevereiro

Tá chovendo pra cacete ultimante. Chuvas descomunais. Que duram cinco minutos, o tempo de fumar um cigarro. A famosa tromba d'água. Aliás, porque uma chuva forte se chama tromba d'água? Isso me lembrou os piores momentos das nossas vidas. Como dentro da tromba d'água. Vc não quer nem abrir os olhos e fecha os ouvidos por causa dos trovões. E logo você mal lembra que ela veio.
Mas para você é o extremo.
O fim do mundo.
A rua da amargura.
O fundo do poço.
Aquele assalto que vc tem certeza que o Rocky cairá com o próximo gancho.
Mesmo como únicos(?!) seres racionais, caímos no conto da tristeza eterna numa mínima fração da vida. O conto do coração vigário. Conotação exagerada se faz muito presente na adversidade. Fazemos disso um momento quase mórbido. Tem gente que até chama de curtir a fossa. Escutamos radiohead e nos achamos tristes de verdade. Quando o assunto é amor então, aí a casa cai. Vale até música goiana. Mas só até o próximo perfume aparecer.
Sempre aquele momento é o pior do mundo. E ainda achamos que nunca alguém passou por aquilo. Só o Rocky.
Nossa vida tem o sério costume de valorizar a dor.
Ou a dor valoriza a vida?
Só sei que chove pra cacete. E pára em cinco minutos.
E parece ser belo perto dos londrinos. Lá chove sem parar.