quinta-feira, 27 de março de 2008

A tal

O que existe na atriz?
Por que todos escrevem sobre ela?
É inesquecível. Instiga, rouba, dilacera.
Faz de mim o que bem quer.

Fosse uma estudante de medicida. Centrada nas suas ciências e procura constante da segurança do amor na compensação pela devoção à profissão. Cardiologicamente resumido a um bom funcionamento. É de poucas aventuras.

A engenheira na precisão do seu compasso. Traçaria linhas firmes ao fundo. Talvez até pudesse eu calcular o jeito todo. A forma como aconteceria. Me soa como certo na intenção do apoio no amor.

Quiçá até a professora de línguas. Nas suas viagens e rodeios, todos os caprichos dos autores consumidos durante sua vida. Já participara no seu íntimo das mais belas histórias de amor. A idealização e realização já me passa entre o certo e o incerto, mas o caminho ainda me parece provável. Já me sugere alento. Intriga, mas não me suspira.

Mas é a atriz.
No seu mundo de mil amores. Na sua vida sem rumo, hora ou cabimento. Cabe em cada gesto dela, mil noites dos meus pensamentos. Sua vida é o palco. Sua pele, qualquer personagem. Seria eu um contracenante? Na conjectura, sei que tenho o meu pedaço nela. Mas é parte dum todo. Nunca será o todo. É meu porquê de ser ela e não tê-la. Emoções saltam pelos seus poros dia e noite. Distribuí-la na sinceridade é meio como obrigação por ser quem é. Se eu cativasse de outra forma, bem no começo. Talvez outro destino. Hoje, já a encarnação daquela que no cinema, na televisão e no palco pára os meus olhos para observá-la. Hipnose da sua vertente. Daria o meu mundo. Faria o meu mundo. Entretanto, borboleta que seria um pecado guardar. Na minha angústia, desperta a coerência.
Balança-me como o vento. E logo não sei onde está.
Impróprio é pensar sem.
Por ser a atriz.

segunda-feira, 24 de março de 2008

Róque triste

Ah, seus discos na vitrola embalavam os meus suspiros
As histórias que contava eram regadas a guitarra e vinhos
E desde aquele dia, pensei encontrar
Em você a resposta pra saber o que é róque e amar

Meu solo com você era brindado em acordes
As noites passavam, esquinas, sim, eu tive sorte
Nas linhas cantadas, você era o meu mundo
Mas seus róques dizem que as coisas vão em um segundo

E agora sobrou um refrão e um pouco de amor
Esse róque eu faço com meu dissabor
Na vida dos outros consigo enxergar
A dor que eu sinto é tão popular
Felicidade é questão de hora
Mas parece que nunca é agora

O Sol pela manhã nos avisava da hora de parar
E hoje, vejo você bailando seu róque com outro par
No gosto, minhas letras de mau agouro
O óbvio do meu róque é o amor sempre para o outro

quinta-feira, 20 de março de 2008

Ela

Ela na tela.
Quão bela.
Mesmo que na novela.
Poderia ser a minha janela.
Uma pintura de aquarela.
Um jantar à luz de vela.
Cinderela?
Ela.

quarta-feira, 12 de março de 2008

invisível

Incríveis se tornaram as vezes que nos encontramos. Tão corriqueiras como as chuvas de granizos. Minguadas e quase que arrebatadoras.
Já faz algum tempo, éramos principiantes. Hoje, ao menos no papel, somos entendidos.
Soa exatamente como da primeira vez. A imagem bem compassada diante dos meus olhos, o sorriso que pára antes de entrar nos meus lábios e uma sensação de “é ali que eu queria estar”. Entenderam agora o porquê de serem incríveis. É como se ela entendesse tudo, mas todo entendimento não se revelasse em ações. Cada gesto, desde o primeiro instante, se mostrava eterno naquela fração de encontro. Chega a beirar o inexplicável, mesmo que seja tão expressivo somente quando acontece. Quando nos encontramos. Um botão de liga e desliga? Talvez nunca entenda.
O curioso é que tanto já se passou e nunca deixei isso maior. Fui a lugares que importavam muito menos, mas ali, no mais singelo, desconheci. Congelei no primeiro instante. E fiz desse instante todos os outros. Se eu fugisse da primeira impressão, tudo poderia desaparecer. Até soube mais, explorei tudo de um modo natural. Parecia até que éramos amigos. Soube dos gostos e dos casos. Casados com os meus, como bem sempre.
A última vez foi como todas. Mas no fim da noite, desfolhou um quê de diferença.
Tudo dito nas linhas acima é fruto duma percepção tardia. Ou precisa. Não colho lamento dessa história. Até agora ela nem tinha existia. Existiu quando percebi. Quando o sentido era perceber. Não existe mais razão para sair da primeira impressão. Ela me cativou de tal forma que mal me dei conta. Na minha memória, trará conforto como coisas tão vividas quanto isso não foi.
Eternamente responsável por aquilo que cativas. Puro clichê.
Até nisso combinávamos.

quinta-feira, 6 de março de 2008

Casualmentestranho

De primeira instância, foi um sonho.
E, hoje, minhas próprias imagens parecem ter sido inventadas.
Como quando, após muito tempo, você encontra um pedaço de papel no qual você escreveu um sonho na primeira hora da manhã. Você lê com assombro e não reconhece nada como se tivesse sido o sonho de outra pessoa.
E, assim, eu hoje acho difícil acreditar que passei por aqueles momentos onde eu via o mundo de uma forma que difere do presente.
Minhas lembranças pareciam as de um sonâmbulo: Aquela sensação tão familiar e tão íntima parecia fruto de tantas músicas, dos tantos livros e dos certos filmes. Diagnosticando a mente, as sensações começaram a se pôr em coerência.
E no fim, me dei conta que era essa intimidade que buscava em você.
A íntima sensação com o desconhecido. Continuamente.