quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Valei-me, Deus!

Há bem uns três anos atrás, eu era magro de dar dó.
Há dois anos atrás fui descobrir o que era um projeto de barriga.
No ano passado já exclamavam na cara dura: - Nossa, como você engordou.
E nesse ano, ao ver minha bunda numa calça tamanho 44 parecendo com a da Carla Perez, resolvi entrar na academia.
Logo eu, porque comigo?
Pensei e relutei por algumas semanas.
Pensei em soluções até.
Remédios? E o medo das coisas não funcionarem direito?
Parar com cerveja?
Bem, lá estava eu debruçado no balcão para fazer a matrícula.
Avistei lá dentro uma legião de bicicletas ergométricas, aparelhos de tortura, um monte de gente pra estampar capas de revistas e alguns outros que pareciam estar na mesma situação que eu.
Um martírio.
A música que vinha do andar de cima era um bate estaca de dar dó.
O que será que acontecia por lá?
Vem a atendente toda sorridente.
Me pergunta se não quero aula disso, daquilo, e daquilo outro.
Eu bem curto e grosso fui respondendo negativamente.
Queria uma esteira, uma bicicleta e olhe lá.
E ela ainda me cobrou os olhos da cara por isso.
Me disse que com o tempo eu começaria a malhar, conhecer gente legal, puxar ferro (?!?!) e bla bla bla... fui embora reclamando da vida.
Era o cúmulo do absurdo.
Dia seguinte. Tenho que me animar.
Fui dormir pensando assim.
Acordei pontualmente com o despertador.
Vesti meu conjunto de moleton, meu all-star mais surrado, coloquei um boné, peguei um livro, uma revista, uma coca-cola zero e lá fui eu.
Entrei. Minhas pernas estavam bambas.
Era tanta gente trabalhando os músculos frenticamente que me deu a impressão que ninguém pensava naquela lugar.
Só corriam, levantavam peso e pulavam no ritmo da música.
Peguei uma esteira rapidamente e comecei a caminhar.
Tive a impressão que todos ali estavam olhando para mim.
E realmente estavam.
Não deu míseros cinco minutos e ironicamente vem uma garota de propaganda de cerveja falar comigo.
- Você é novo aqui, certo?
Me diga algo que um gorila não sabe, pensei.
- Sou sim, primeiro dia. Parece?
E ela, como explicando para uma criança.
- Pois é. Sou instrutora aqui meu nome é (bocejei na hora do nome e não sei até agora, talvez seja Marta, Mara ou Mayara). Logo vi que você é novato, seu tênis está errado, sua roupa está errada e sua alimentação também.
Como assim? Porra, que merda!
Eu me preparei para esse momento, tentei não esquecer de nada e ela vem me dizer que eu tô todo errado? E quem disse que eu quero estar certo?
Respirei fundo e respondi com calma que logo eu pegaria o jeito.
Depois pulei para a bicicleta e daí para a rua sem mais nenhuma palavra.
Meus músculos doíam demais.
Mas senti que tava cumprindo a missão.
Dia seguinte a mesma coisa.
Quando tem noite de bar é mais complicado de levantar.
No terceiro dia, esqueci que ia para academia e apareci lá de calça jeans.
Pude até ouvir os pensamentos.
- Olha que otário! hahaha
Bem, é certo que não é o melhor lugar do mundo.
Mas pode se tornar o pior se todos na academia te olharem torto.
Ontem vi uma garota alisando o braço de um cara.
Eu jurava que tava num filme do mais estereotipado.
Mas é a bela e doce vida real.
Vem a instrutora de novo e me diz:
- Olha, você está progredindo. Logo mais estará igual a ele, apontando para uma mistura de Schwarzenegger com Mike Tyson.
Olhei para todos os cantos à procura de um revólver, mas não encontrei e preferi sorrir discretamente e me recolher na minha insignificância momentânea.
Sim, eu sou o mais odiado do recinto.
Ninguém conversa comigo, demoram na esteira só para eu não usar, entram no chuveiro antes de mim e uma vez ficaram até abanando com a mão quando cheguei comendo um x-bacon.
Ainda não sei o que acontece no andar de cima onde há música e todos gritam, mas qualquer dia matarei a curiosidade.
Logo mais estarei livre disso.
E tudo isso só serviu para eu confirmar uma coisa.
Eu nunca farei um amigo tomando gatorade.

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

entendimento

Já não me sinto culpado.
Talvez seja normal de todos nós.
Deixar alguns nós parecer casual.
Entendo como devia.
Foi preciso ver onde não acreditava.
Na vida sua e naquele outro.
Em muitas vezes, de quem está do seu lado.
A grande questão da felicidade pode estar por perto.
Vejo algo próximo de aprender a libertar paixões.
Aprisionar os sentimentos desde então será um retrocesso.
Pois ainda estarão elas ali nos mesmos lugares?
Tocando a mesma música.
Vivendo como se atuasse.
Sorrindo do mesmo jeito.
Mas minha vida agora é outra.
Ainda há o direito de guardar uma gota de talvez?
Mesmo vivendo em outra felicidade, culpa agora é coisa de valor barato.
Pensar que nunca mais, deixava a ponta da alma dolorida.
Num caso, pela graça que teve.
Para o outro é pela intensidade que se renova de época em época.
E por fim, afinal, nossa história merecia um final melhor.
Meus sentimentos abissais agora estão bem aqui na minha frente.
É como se olhar no espelho e não ter o que esconder.
Ter certeza que não há nada de errado em acreditar.
Acreditar que pode haver tempo.
Tempo para aspas e parênteses.

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

incerteza

Acordo na varanda de uma cabana.
Nas ilhas Fiji o mar é mais azul do que o céu e faz curioso contraste com o sol.
Caminho um pouco pelo Central Park e logo depois tomarei café na Champs Elise.
Apresso-me ainda pra não perder o sol da manhã e vejo as ondas no Havaí belas como nunca.
E já fugindo do sol, uma rápida passagem pra pegar a brisa nas ruínas gregas.
É hora de almoçar. Na dúvida, comida japonesa em volta do monte Fuji e me acanho num canto no topo do Kilimanjaro para aquela providencial soneca.
Acordo para umas compras em Milão.
Um pulo no Louvre pra me inspirar e outro em Veneza pra me apaixonar.
Na Escócia, paro por um gole de uísque e em São Petesburgo para uma dose de vodca.
Relaxo em passos lentos pela Muralha da China até chegar na Cordilheira dos Andes, sem me esquecer de passar por Compostela.
Fim da tarde e é hora de esquiar. Desço em ritmo acelerado pelas montanhas de Aspen e encontro o chão em Genebra.
Preciso me correr. Ver o pôr-do-sol das pirâmides do Egito é um dos meus programas favoritos.
Os violeiros mexicanos embalam o meu jantar regado de alegria.
Já vejo a lua e chuva. É hora de beber com os amigos na Abbey Road.
Quando a noite esquenta, corremos para Barcelona para não perder nada da festa.
Cansado, difícil dormir às cinco da manhã com essas luzes de Las Vegas.
Ainda tenho dúvidas se fiz a escolha certa.
Pensar que uma volta de mãos dadas com ela e um beijo antes de domir me fariam mais feliz que essa vida que levo.
Pode parecer loucura.
Vai saber.